quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Dias de Puro Encantamento



Há muito tempo atrás, quando tinha uns 17 ou 18 anos, no começo dos anos 80, de vez em quando eu e uns amigos, no período das férias, íamos ficar acampados na Represa do Funil e pescando por vários dias. Naquela época só havia uma ou outra fazenda antiga e muito distante uma da outra, e na maioria dos locais, a gente ficava e se sentia completamente isolados, e era uma sensação muito agradável. Nesse tempo havia em pontos estratégicos de pesca, alguns barracos feitos pelos pescadores que eram simplesmente uma estrutura de paus de eucalipto com cobertura de sapê, e totalmente destituída de paredes, e a única coisa que havia embaixo desse telheiro de mato era um fogão de lenha bem rústico também mas bastante funcional. Conheci e fiquei em pelo menos dois desses barracos.


Ficávamos em média uns 3 dias pescando e vivendo como índios nesse paraíso. A maioria como eu ficava o dia todo só de cuecas ou sunga de banho, e era exatamente como índios que nos sentíamos. A gente levava o básico do básico pra essas incursões; Arroz, macarrão, batatas, óleo, sal e duas panelas velhas, que na maioria das vezes, deixávamos no rancho pra que outros usassem. A pesca era farta e graúda, e passávamos o dia pescando e explorando os arredores do acampamento. Antes de escurecer, reuníamos mais lenha para cozinhar e para a fogueira que ardia toda noite a alguns metros do acampamento, e às vezes, diante dessa fogueira onde as mentiras de pescadores eram contadas à noite na sua mais pura essência e sem nenhum pudor, é que surgiam brotando da escuridão da noite, personagens inesquecíveis. O que eu mais gostava, e que aparecia sem a gente esperar e dava cada baita susto na gente, era o falecido caboclo João Mineiro, o Psicodélico. Trabalhava numa fazenda e sua tapera onde morava sozinho e Deus, não era muito longe de um dos barracos. Apesar de falar muito enrolado e a gente só entender a última palavra de cada frase que ele dizia, a gente se comunicava muito bem, tanto no mato como quando ele ia na cidade. Sempre levava um leite de curral, algumas verduras, e até um feijão novo ajudando a variar o nosso cardápio de arroz,batata e peixe. E claro, solicitava um gole da marvada, que ele sabia que não faltava no acampamento.
Nesses dias tudo era mágico, fatos corriqueiros que não damos a menor bola no nosso dia a dia, como o amanhecer, o pôr do sol, a noite coalhada de estrelas, tudo isso ganhava tonalidades de um encanto impossível de descrever com palavras. A sensação de isolamento e liberdade eram incríveis. Esses dias jamais sairão da minha lembrança!
Há algum tempo atrás, eu estive praquelas bandas acompanhando um amigo à trabalho e fiquei surpreso com o que vi. Aqueles ermos solitários e tão bonitos estavam repletos de sítios, fazendas, e incontáveis malocas de pescadores. O lugar perdeu todo o seu encanto agreste e bucólico. Uma pena...! Mas o mundo é assim!

Um grande abraço a todos e principalmente aos meus companheiros nessas aventuras; Zé Ricardo, Barata, Dragão, Bico Branco, Pipinha, Robertinho e os que já estão com Deus, Waldyr Monstro e Oswaldinho.