Há muito tempo atrás, quando tinha uns 17 ou 18
anos, no começo dos anos 80, de vez em quando eu e uns amigos, no período das
férias, íamos ficar acampados na Represa do Funil e pescando por vários dias.
Naquela época só havia uma ou outra fazenda antiga e muito distante uma da outra, e na
maioria dos locais, a gente ficava e se sentia completamente isolados, e era
uma sensação muito agradável. Nesse tempo havia em pontos estratégicos de
pesca, alguns barracos feitos pelos pescadores que eram simplesmente uma
estrutura de paus de eucalipto com cobertura de sapê, e totalmente destituída
de paredes, e a única coisa que havia embaixo desse telheiro de mato era um
fogão de lenha bem rústico também mas bastante funcional. Conheci e fiquei em
pelo menos dois desses barracos.
Ficávamos em média uns 3 dias pescando e vivendo
como índios nesse paraíso. A maioria como eu ficava o dia todo só de cuecas ou
sunga de banho, e era
exatamente como índios que nos sentíamos. A gente levava o básico do básico pra
essas incursões; Arroz, macarrão, batatas, óleo, sal e duas panelas velhas, que na
maioria das vezes, deixávamos no rancho pra que outros usassem. A pesca era
farta e graúda, e passávamos o dia pescando e explorando os arredores do
acampamento. Antes de escurecer, reuníamos mais lenha para cozinhar e para a
fogueira que ardia toda noite a alguns metros do acampamento, e às vezes,
diante dessa fogueira onde as mentiras de pescadores eram contadas à noite na
sua mais pura essência e sem nenhum pudor, é que surgiam brotando da escuridão
da noite, personagens inesquecíveis. O que eu mais gostava, e que aparecia sem
a gente esperar e dava cada baita susto na gente, era o falecido caboclo João
Mineiro, o Psicodélico. Trabalhava numa fazenda e sua tapera onde morava sozinho e Deus, não era muito
longe de um dos barracos. Apesar de falar muito enrolado e a gente só entender
a última palavra de cada frase que ele dizia, a gente se comunicava muito bem, tanto
no mato como quando ele ia na cidade. Sempre levava um leite de curral, algumas
verduras, e até um feijão novo ajudando a variar o nosso cardápio de arroz,batata e
peixe. E claro, solicitava um gole da marvada, que ele sabia que não faltava no
acampamento.
Nesses dias tudo era mágico, fatos corriqueiros
que não damos a menor bola no nosso dia a dia, como o amanhecer, o pôr do sol,
a noite coalhada de estrelas, tudo isso ganhava tonalidades de um encanto impossível
de descrever com palavras. A sensação de isolamento e liberdade eram incríveis.
Esses dias jamais sairão da minha lembrança!
Há algum tempo atrás, eu estive praquelas bandas
acompanhando um amigo à trabalho e fiquei surpreso com o que vi. Aqueles ermos
solitários e tão bonitos estavam repletos de sítios, fazendas, e incontáveis
malocas de pescadores. O lugar perdeu todo o seu encanto agreste e bucólico. Uma
pena...! Mas o mundo é assim!
Um grande abraço a todos e principalmente aos
meus companheiros nessas aventuras; Zé Ricardo, Barata, Dragão, Bico Branco,
Pipinha, Robertinho e os que já estão com Deus, Waldyr Monstro e Oswaldinho.